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Volume 20 / Fascículo 1
Janeiro 1997
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A SPF comemora com este número especial os cinquenta anos da Gazeta de Física. Era nossa intenção assinalar, também, os 90 anos de um dos fundadores e principais redactores, ao longo de décadas, o Professor Rómulo de Carvalho; o seu recente falecimento transforma o presente fascículo numa homenagem à sua memória.


 

Antes de nos referirmos ao lançamento desta revista, há que fazer uma introdução, correspondente à criação e desenvolvimento do Centro de Estudos de Física, anexo ao Laboratório de Física da Faculdade de Ciências de Lisboa. Este Centro foi oficialmente criado em 1940, embora existisse “potencialmente” desde 1929, e em 1930, pela primeira vez, tivesse sido enviado ao estrangeiro um bolseiro português, docente do referido Laboratório de Física. Era então já director do laboratório o professor A. Cyrillo Soares que, embora não fosse um investigador, assumiu desde a sua criação as funções de Director do Centro, as quais abandonou, a seu pedido, em 1947.

 

Até 1833 a interpretação dos fenómenos eléctricos assentava na existência vaga de dois fluidos que os corpos possuíam independentemente da matéria que os formava. Tinham esses fluidos os nomes de positivo e negativo e existiam normalmente em quantidades iguais em vários corpos. Se, por qualquer motivo, um corpo perdesse parte desses fluidos ficaria carregado com electricidade de sinal igual ao do fluido que não perdera e que, por tal motivo, ficava em excesso em relação ao do outro sinal.


É com uma história triste de meio século que irei iniciar a lembrança do grande mestre. Dois meses depois da destruição das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasáqui (Agosto de 1945) iria conhecer o Dr. Rómulo de Carvalho. Já lá vão mais de 51 anos!


Rómulo de Carvalho deixou-nos uma vasta e variada bibliografia de ensaio, que inclui livros de divulgação, obras de história da ciência e manuais escolares. A primeira categoria inclui os livros da colecção “Ciência para Gente Nova" e os dois volumes de “Física para o Povo", todos inicialmente editados pela Atlântida, de Coimbra e alguns recentemente reeditados pela Relógio de Água, de Lisboa. A segunda inclui um vasto número de títulos centrados na ciência em Portugal no século XVIII, de que merecem destaque os pequenos livros publicados pelo Instituto da Cultura e Língua Portuguesa (Rómulo escolheu para tema da sua vida a ciência oitocentista já que a ciência dos Descobrimentos tinha sido alvo de importantes estudos de outros autores e a ciência em Portugal no século XIX foi pouco mais do que inexistente). Por último, de entre os manuais escolares, muitas vezes em co-autoria e de qualidade não uniforme, merecem referência as “Ciências da Natureza” para os primeiros anos do liceu. Como obras de ensaio avulsas mas de grande fôlego destacam-se duas, escritas em idade avançada e ambas editadas pelo Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, “História do Ensino em Portugal” e “O Texto Poético como Documento Social”.


Desculpe-me a familiaridade e a simplicidade com que irei proferir algumas palavras. É que para mim, mais do que uma homenagem, hoje é um dia festivo e, nestes dias, desde pequeno, sou avesso, ou melhor, tenho dificuldade em domesticar-me aos coletes de forças que são as gravatas, as mesas engalanadas sem bolos e guloseimas e os discursos de circunstância.  


  • Lição sobre a água
  • Amador sem coisa amada
  • Reflexão total
  • Máquina de Fogo

No quadro da homenagem nacional a Rómulo de Carvalho/António Gedeão promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, realizou-se na manhã do dia 17 de Dezembro de 1996, na Escola Secundária Pedro Nunes, Lisboa, um debate intitulado “Pelo ensino experimental das ciências”. Nesse debate, coordenado pelo Prof. Cândido Marciano da Silva, participaram antigos alunos de Rómulo de Carvalho, professores, cientistas e pedagogos. A “Gazeta de Física” publica neste número os textos das intervenções disponíveis. Na tarde do mesmo dia, realizou-se uma sessão solene de homenagem ao Prof. Rómulo de Carvalho, presidida pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, e que contou com a presença do Ministro da Ciência e Tecnologia, Prof. José Mariano Gago, e do Ministro da Educação, Prof. Marçal Grilo. O Presidente da República distinguiu o Prof. Rómulo de Carvalho com a Ordem Militar de Santiago de Espada. (N.E.).


Impressionou-me bastante a recente observação de Rómulo de Carvalho de que o ensino “foi sempre mau” e “talvez, até, cada vez pior”. Talvez este fatalismo da relação professor/aluno tenha sido grandemente amplificado pela explosão escolar que entretanto se verificou, e se tenha tornado hoje mais fácil encontrar maus alunos e maus professores do que ocorria há quatro décadas atrás, altura em que o “direito” ao ensino não encontrava expressão em largos estratos da sociedade. Felizmente inúmeros exemplos mostraram que a aptidão para a aprendizagem e a própria capacidade intelectual não estão relacionadas com a origem social, embora, como em tudo o resto, os privilégios sociais contribuam claramente para o bom sucesso do aluno.


No dia 29 de Janeiro do corrente ano foi inaugurada, no edifício pombalino do Colégio de Jesus, em Coimbra, a exposição “O Engenho e a Arte”. Dignouse presidir à cerimónia o Senhor Presidente da República. Instrumentos históricos, grande parte dos quais foi exibida na Europália, em Charleroi, por ocasião da bem sucedida exposição “Mecanismos do Génio”, podem ser apreciados nesta exposição que assinala a abertura regular, ao público, do Museu do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.


Olimpíadas Internacionais de Física (XXVII, Oslo 1996)

Problema Experimental


Centro de Competências Softciências


Decorreu nos passados dias 28 de Fevereiro e 1 de Março, no Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, o 1o Workshop do projecto “Física em Acção”. A “Física em Acção” é um projecto dinamizado pela SPF e financiado pelo programa “Ciência Viva” do Ministério da Ciência e Tecnologia que tem como objectivo a divulgação do ensino experimental da Física no Ensino Secundário com recurso às novas tecnologias, nomeadamente o uso de sensores e computadores no laboratório (ver última “Gazeta de Física”). Após concurso a nível nacional, foram seleccionadas para concretização do projecto as 10 escolas secundárias abaixo indicadas, cujos Laboratórios de Física foram já equipados com um kit de sensores e aquisição de dados (da Pasco Scientific), software e um computador multimédia, no valor total de cerca de 1000 contos. Esse equipamento fica propriedade da escola.


Parecer sobre a prova-modelo de Física do 12º de escolaridade/1997

A prova-modelo em apreço tem a qualidade requerida: está bem estruturada, avalia o núcleo significativo de objectivos e conteúdos do programa de Física do 12.° ano, está dimensionada para ser realizada em 90 min (a que se acrescentam 30 min. de tolerância) e tem o nível de exigência adequado à população a que se destina. A expectativa que esta prova-modelo cria relativamente às provas reais é, pois, a melhor.


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