Os raios cósmicos ultra-energéticos são protões formados em buracos negros no centro de galáxias próximas, segundo uma colaboração internacional de cientistas anunciou no princípio deste mês.
Descobertos há 95 anos, os raios cósmicos são partículas energéticas que entram na atmosfera terrestre provenientes do espaço sideral. Na sua maioria, têm origem na nossa galáxia, em especial no sol. Existe porém uma categoria especial: os raios cósmicos ultra-energéticos, descobertos em 1963. São as partículas mais energéticas conhecidas no universo: cada uma delas tem uma energia de 57 milhões de biliões de electrões-volt, equivalente à de uma bola de ténis, um murro de um pugilista ou uma bala de um revólver, e cerca de 100 milhões de vezes a energia das partículas produzidas nos maiores aceleradores da Terra. Cada quilómetro quadrado da superfície terrestre é atingido, em média, uma vez por século por uma destas partículas (protões ou outros núcleos atómicos), que são assim muito raras.
Desde a sua descoberta que a sua origem e constituição era um mistério. E foi esse mistério que uma equipa de 370 cientistas de 17 países, entre os quais 12 portugueses, julga ter resolvido. Através da observação de 27 destas partículas ultra-energéticas, detectadas ao longo de dois anos no maior detector de raios cósmicos do mundo, o observatório Pierre Auger, na Argentina, os cientistas descobriram que estes raios cósmicos de alta energia são protões, produzidos por galáxias que têm no seu centro buracos negros activos e ejectados no espaço intergaláctico. Suspeitava-se que proviessem de fora da nossa galáxia: com energias tão grandes, teriam de ser formados nos eventos mais energéticos do universo. A descoberta, publicada no jornal Science, demonstra como estas partículas viajam isoladamente 250 milhões de anos-luz até chegarem à Terra.