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Volume 45 / Fascículo 4
Março 2023
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A conservação da memória, do que foi “construído”, das ideias e dos seus protagonistas, é de particular importância na compreensão do presente e na projeção do futuro. Os museus têm aqui um papel fundamental, contribuindo para que as memórias permaneçam vivas. Para além da sua missão de conservar, investigar, expor e preservar a memória, os museus atuais têm também uma forte componente educativa. Visitar museus, seja em ambiente familiar, seja através da escola, é, muitas vezes, o ponto de partida para as gerações mais novas tomarem o contacto e o gosto pela ciência. Quem não conhece o interesse dos mais pequenos pelos dinossauros e por outros fósseis. Também a Física beneficia com a exposição da sua história e dos instrumentos e equipamentos que marcaram a sua evolução ao longo dos tempos.


Entre as atividades iniciais dos fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa, conta-se a instalação de vários departamentos de índole científica, mas um, em particular, merece destaque: o Gabinete de Física. A instituição, envolvida nos ideais iluministas, acolheu, nos respetivos espaços, demonstrações e aulas práticas dos fenómenos da Natureza e das leis do Universo. Entre a segunda metade do séc. XVIII e as primeiras décadas do XX, a Academia das Ciências de Lisboa adquiriu centenas de instrumentos científicos a alguns dos mais reputados fornecedores da Europa. A heterogénea coleção oferece um vislumbre da crescente importância do método experimental na atividade pedagógica e encerra a particularidade de ter sido organizada por Rómulo de Carvalho. Neste artigo, pretendemos mostrar a importância desta coleção, alvo de uma exposição recente, como exemplo daquele que terá sido o principal agente de mudança da chamada Física antiga para a Física moderna, tal como hoje a conhecemos, isto é, a demonstração experimental.


A geração de sismos é um processo contínuo forçado pelo movimento das placas tectónicas. O ciclo sísmico envolve a acumulação de tensão e a sua relaxação brusca durante um evento. Este ciclo sísmico pode ser reproduzido em laboratório usando um bloco preso por uma mola ou elástico, assente sobre um tapete rolante, naquilo que designamos por “máquina de sismos”. O estudo deste dispositivo faz intervir conceitos básicos de mecânica que podem ser explorados pela Física e a analogia com o ciclo sísmico que ocorre na litosfera explorado pelas Ciências da Terra, numa sinergia e multidisciplinaridade de proveito mútuo.


Em 2005, ano internacional da Física, a Sociedade Portuguesa de Física organizou a conferência “Física 2005 - Física para o século XXI”, de 1 a 3 de Dezembro, na Alfândega do Porto [ver vol. 28, Fasc. 4 da Gazeta de Física]. Entre os palestrantes convidados, surge o nome de Anton Zeilinger, um dos laureados com o Prémio Nobel da Física de 2022 “por experiências com fotões emaranhados, estabelecendo a violação das desigualdades de Bell e pioneiras na ciência da informação quântica”. Tendo co-organizado este evento, lembro-me com clareza da comunicação de Zeilinger na Física 2005, com o título, “De Einstein à Informação Quântica”, e ficou-me gravada a “anedota” com que Zeilinger a fechou. Disse-nos que tinha estado nos EUA recentemente e que lá já se conseguiam sobreposições quânticas com corpos macroscópicos, mostrando-nos com um sorriso prazeroso uma fotografia da saída de um parque de estacionamento, que tinha duas vias, e com uma placa no meio das vias declarando “Exit both ways”. E rematou: “Os americanos, como sempre, estão bem à nossa frente.” À gargalhada geral seguiu-se uma sentida salva de palmas pela estimulante comunicação.
 


Equilíbrio estável
É com o Marquês de Pombal que o ensino da Física como ciência experimental tem início em Portugal, mais precisamente com a inauguração em 1766 do Colégio dos Nobres, em Lisboa. Contudo, na sequência da Reforma Pombalina da Universidade, em 1772, o Marquês de Pombal mandou transferir para Coimbra toda a coleção de instrumentos de Física, assim como o professor italiano António Dalla Bella, que chegaram a esta cidade no dia 3 de Fevereiro de 1773, há precisamente 250 anos!

A Física é uma ciência que tem como objetivo principal perceber como o Universo funciona. E para percebermos o Universo precisamos de observar, experimentar, medir e explicar o comportamento dos constituintes do Universo. Para isso é necessário criar laboratórios e equipá-los com os melhores instrumentos científicos.


Olimpíadas Regionais de Física
A XXXVIII edição das Olimpíadas de Física, de forma presencial no dia 23 de abril de 2022 nas cidades de Coimbra, Covilhã, Faro, Funchal, Lisboa, Ponta Delgada, Porto, e Vila Real. Contou com uma componente teórica e uma componente experimental. O número de alunos aumentou em relação aos anos de pandemia, estando envolvidos nesta atividade 464 alunos do 9º ano (escalão A), e 450 alunos do 11º ano (escalão B).


Olimpíadas Nacionais de Física


A segunda e última etapa das XXXVIII Olimpíadas de Física, as Olimpíadas Nacionais de Física, decorreu a 28 de maio de 2022 no Departamento de Física da Universidade de Coimbra. Contou com uma componente teórica e uma componente experimental. Participaram na etapa nacional os premiados da etapa regional, isto é, 41 alunos do escalão A e 47 alunos do escalão B. Os vencedores foram:


Olimpíadas Internacionais de Física
A Sociedade Portuguesa de Física esteve, em 2022, envolvida na participação portuguesa em três olimpíadas internacionais: a LII Olimpíada Internacional de Física (IPhO), a XXVII Olimpíada Ibero-americana de Física (OIbF) e a Olimpíada Europeia de Física 2022 (EuPhO). A IPhO e a OIbF foram edições virtuais de olimpíadas, em cuja participação implicou um grande esforço de organização por parte da SPF. A EuPhO teve lugar em Ljubljana, na Eslovénia de forma presencial.


Portugal participou pela terceira vez nas Olimpíadas Europeias de Física, em 2022. A EuPhO 2022 teve lugar na Eslovénia, de 20 a 24 de maio de 2022, tendo participado na competição 182 estudantes do ensino secundário de 37 países. Nesta competição os estudantes sujeitam-se a duas provas (uma experimental e uma teórica) que decorrem em dois dias diferentes e têm uma duração de 5 horas cada. João Carvalho do Departamento de Física da Universidade de Coimbra foi o responsável pela delegação Portuguesa na Eslovénia. O vencedor absoluto foi um estudante da Roménia, Vlad Oros, que obteve 42.3 dos 50 pontos possíveis. A lista dos estudantes portugueses (que obtiveram 1 medalha de prata e 1 menção honrosa)


As Olimpíadas Internacionais de Física decorreram de 10 a 17 de julho de 2022, tendo participado na competição estudantes do ensino secundário de 75 países. Nesta competição os estudantes sujeitam-se a duas provas (uma experimental e uma teórica) que decorrem em dois dias diferentes e têm uma duração de 5 horas cada. O vencedor absoluto foi Guowei Xu da China, com uma pontuação de 43,2 pontos em 50. A prestação da equipa de Portugal resultou na obtenção de uma medalha de bronze e de quatro menções honrosas, tendo todos os elementos da equipa sido premiados.


Olimpíada Ibero-americana de Física também teve a sua edição virtual que decorreu de 1 a 8 de outubro de 2022. Participaram na competição 60 estudantes de 17 países do espaço ibero-americano. Os participantes realizaram as provas remotamente em suas casas. O vencedor absoluto desta olimpíada foi um estudante brasileiro, Alberto Akira. A equipa de Portugal conquistou três menções honrosas.


No Dia Nacional da Cultura Científica e Tecnológica, em 24 de Novembro, o Prémio Ciência Viva 2022 na categoria Educação foi entregue ao Professor Pedro Abreu. A cerimónia realizou-se no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Os Prémios Ciência Viva são atribuídos anualmente, desde 2012, a personalidades e instituições que se destacam pelo seu mérito excecional na promoção da cultura científica em Portugal, de acordo com uma seleção feita pelos representantes das instituições científicas associadas da Agência Ciência Viva. 
Pedro Abreu é professor no Departamento de Física do Instituto Superior Técnico, investigador do LIP — Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, co-coordenador da colaboração IPPOG — International Particle Physics Outreach Group e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Física. A ele, os nossos Parabéns.


Com o apoio da REN, Redes Energéticas Nacionais SA, a SPF, Sociedade Portuguesa de Física, implementou, no ano letivo 2021/22 a 13ª edição do projeto MEDEA junto dos alunos de várias escolas secundárias e profissionais do país desafiando-os a medir e a compreender o campo eletromagnético no meio ambiente. O objetivo do projeto MEDEA é perceber e medir os campos eletromagnéticos de muito baixa frequência, 0 a 300 Hz, que são produzidos por qualquer equipamento ou circuito elétrico. Os alunos participantes, com o apoio dos respetivos professores, são encorajados a efetuar medições destes campos na escola, no seu ambiente doméstico e na vizinhança de linhas de transporte de energia elétrica; e após implementação de metodologia científica de análise e interpretação dos resultados obtidos, concluir, com a informação cientificamente credível, sobre os eventuais efeitos destes campos na saúde humana.


No dia 10 de fevereiro, realizou-se no Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (DF-FCUL) uma homenagem ao Professor Paulo Crawford, por ocasião dos seus 80 anos. O encontro reuniu colegas, ex-alunos e amigos que com ele privaram durante décadas no Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Paulo Crawford é físico teórico, professor aposentado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.


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